Maria Padilha é do Mal ou do Bem?

No começo, Maria Padilha era apenas um nome nas fórmulas mágicas das feiticeiras da Europa. Depois, Maria Padilha veio com as bruxas e os adivinhos condenados ao degredo pela Inquisição.

Maria Padilha é bonita, é mulher e sagrou-se como a única esposa de Dom Pedro I de Castela, tornando-se a legítima rainha e exercendo seu poder e influência mesmo depois de morta.

Diz-se que, junto de uma árvore, Maria Padilha teria deixado um feitiço de amor feito com um espelho, através do qual o Rei se olhou e, enfeitiçado, se rendeu à paixão da jovem moça.

Os pontos de Maria Padilha parecem lembrar sua história e ela talvez seja a mais popular pomba gira, sendo considerada espírito de uma mulher muito bonita, branca, sedutora, e que em vida teria sido prostituta grã-fina ou influente cortesã.

Maria Padilha foi a amante do rei de Castela que partiu de Montalvan a Beja, de Beja a Angola, de Angola a Recife e de Recife para os terreiros de São Paulo e de todo o Brasil.

Conhecida como uma moça bonita e como rainha, Maria Padilha construiu uma trajetória de aventuras e feitiçaria ao redor do mundo.

Foi no imaginário e nos conjuros de mulheres degredadas que Maria Padilha aportou aqui, mas, de fato, não se sabe se Maria Padilha é o espírito da amante do rei de Castela que se manifesta nos terreiros de umbanda e candomblé.

Maria Padilha é livre de convenções e padrões sociais, livre da moral e da ética castradoras, livre do domínio dos homens, livre pra fazer o que bem quiser.

A visão que se tem de Maria Padilha é na forma de uma linda mulher de estatura mediano-alta, magra, de cabelos e olhos negros, cabelos longos e lisos, com roupas muito curtas e sensuais.

O poder e a dignidade de Maria Padilha são usados para concretizar todos os desejos vindos do amor, por isso Maria Padilha é a pomba gira mais procurada em terreiros e uma importante figura das religiões de origem africana, representada pela imagem de uma feiticeira.

Maria Padilha é a pomba gira capaz de trazer um amor de volta, cultuada em religiões de origem africana, como a Umbanda, é conhecida também por diversos nomes, ou tipos de Maria Padilha, sendo chamada ainda de Maria Padilha das 7 Encruzilhadas, Maria Padilha do Cabaré, Maria Padilha da Estrada, Maria Padilha das Almas e Maria Padilha Cigana.

A história de Maria Padilha, de acordo com pesquisas históricas, conta que ela teria nascido em 1334, na Espanha, com o nome de Maria de Padilla.

Maria de Padilla se tornou uma entidade de grande importância e, dependendo da linhagem e de outras características, Maria Padilha escolhe seu parceiro para realizar determinados trabalhos juntos.

Nos terreiros espalhados por todo o mundo, Maria Padilha é procurada para realizar feitiços, dar orientação e conselhos sobre amor.

Em relação ao culto à Maria Padilha, ela é conhecida por adorar presentes bonitos e sedutores, como cidra e rosas vermelhas, afinal, ela é o símbolo da sedução, feitiço e amor.

Maria Padilha age nas causas relacionadas ao amor, relacionamento e sexo. Isso inclui amarração amorosa com Maria Padilha, trabalho para afastamento de rival, entre outros.

A primeira coisa que você precisa saber sobre Maria Padilha quando pensar em buscar sua ajuda é que ela não auxilia aqueles que recorrem à ela com segundas intenções ou com maldade.

Pelo contrário, Maria Padilha ajuda apenas aqueles que a procuram por amor, com a melhor das intenções.

Então, para que seu pedido à Maria Padilha dê certo, concentre-se primeiramente na intenção. Avalie se seu pedido é realmente digno das bênçãos de Maria Padilha e recorra à sua intercessão.

Ela pode ajudar de várias maneiras com seus trabalhos no mundo espiritual, pois desempenha papel de exu mulher, sendo considerada uma das principais entidades de esquerda da umbanda e do candomblé por sua grande força e alta procura por parte dos consulentes.

Para isso, você pode providenciar um altar ou oferendas para Maria Padilha. Podemos entregar para Maria Padilha farofa com dendê, que chamamos de padê (esta farofa é uma mistura de champanhe, dendê e farinha de rosca branca), champanhe, cigarros e cigarrilhas, joias (como brincos, pulseiras e colares), rosas vermelhas, tecidos finos, velas vermelha e preta e alguidar, e saudá-la com orações e pontos cantados.

Maria Padilha, a feiticeira das pombas giras, pertenceu à uma família castelhana, os Padilla, e seu nome foi eternizado em brasão posteriormente a sua morte.

Através da história da Maria Padilha é possível perceber que ela não era uma mulher qualquer e a força da sua falange é inegável.

Apegada à matéria e ao seu grande amor, Maria Padilha é chefe de falange na linha de Exu, atuando como Exu-Mulher lado a lado de Exus homens.

Os trabalhos de um exu e de uma pomba gira, como Maria Padilha, são constantes, começando bem antes de uma sessão ou gira, continuando durante a mesma e se prolongando após o encerramento das atividades do plano material.

Maria Padilha também é conhecida por dama da madrugada, rainha da encruzilhada e senhora da magia e se estabeleceu como entidade da Linha de Esquerda, sendo vista como uma senhora de uma feminilidade demoníaca, vulgar e sexualmente indomável, porém é chefe de terreiro e sua figura articula uma dualidade que forja em nós tanto a celebração da liberdade erótica como também o seu estereótipo.

Ao incorporar, o que anuncia a manifestação, o que abre a porta para a chegada de Maria Padilha, é a boca: uma sonora gargalhada.

Maria Padilha incorpora de forma rápida, dá a sua gargalhada e dança para afastar as energias ruins e avisar que ela chegou para levar tudo que estiver de ruim no ambiente.

Maria Padilha é uma pomba gira risonha e que dá gargalhadas estridentes para afastar o mal e amedrontar os espíritos obsessores, que buscam vingança.

Maria Padilha vem clamar, gargalhando e gingando, pra todo mundo ver. Maria Padilha vem fazer justiça e abriu a porteira para uma falange de Moças (outro nome que Elas gostam): Rosa Vermelha, Rosa Caveira, Maria Navalha, Sete Saias, Maria Molambo, Maria Quitéria… e muitas mais.

Ela gosta de beber, fumar e de se vestir bem e está sempre com a mão na cintura, por vezes segurando a barra da saia ou jogando-a por cima da perna.

Maria Padilha, Rainha de Castela, era versada em magia e está enterrada na Capela dos Reis, cuja visitação é proibida.

Hoje, Maria Padilha está apagada ou reduzida a amante assassina na própria cidade onde viveu, mas continua uma moça dona do próprio corpo e desejos, bem à vontade pra se expressar erótica.

Ela vem aconselhando mulheres que não se submetam a violências domésticas, que amem o que veem quando se olham no espelho, que não tenham vergonha de sentir tesão, de expressar seu erotismo do modo como a cada uma lhe sobe à pele, que usem a roupa que bem quiserem, que libertem-se dos papéis que a sociedade tenta lhes impingir.

Há quem diga que ela veio expressar a face erótica represada quando os orixás africanos adquiriram aqui feições mais bem comportadas.

É a linha dos exus e das pombas giras que pejorativamente recebeu a alcunha de “demônios” ou daqueles que são os responsáveis diretos por toda a prática do mal, mas nunca irão praticar o mal se estão em uma linha de frente para combatê-lo como uma grande polícia de choque, neutralizando as investidas das trevas na luz.

Exu e pomba gira, como Maria Padilha, no trabalho de Umbanda, nunca irão fazer o mal. Maria Padilha protege, principalmente, seus filhos e não aceita que alguém tente fazer mal contra eles.

Por ser um espirito de luz e chefe de falange, ela não faz o mal. Os quiumbas (seres ainda em evolução) é que fazem o mal.

Pombas giras, como Maria Padilha, e exus de verdade, batizados e coroados, não praticam o mal nem fazem pacto com ninguém.

Maria Padilha é a consorte de Exu, que é o mensageiro dos Orixás no Candomblé, e é a pomba gira dos sete reinos.

Em muitos casos, ela também é invocada para desfazer laços ou magia negra que causam o mal ou doenças.

Maria Padilha das Almas, por exemplo, pode trabalhar para Omulu, orixá da cura e da morte, e atuar nestes casos.

O que acontece é que muitos espíritos obsessores fingem ser pombas giras, como Maria Padilha, por exemplo, e fazem trabalhos para o mal, enganando todas as pessoas em volta, inclusive o médium que está incorporado.

Por ignorância, muitas pessoas acabam acreditando que pombas giras podem nos fazer mal. No entanto, historicamente e teoricamente, em algumas religiões e terreiros, questões de bem e de mal são irrelevantes quando se trata de Maria Padilha, como pode ser comprovado através do seguinte ponto cantado:

Ela é Maria Padilha
De sandalhinha de pau
Ela trabalha para o bem
Mas também trabalha para o mal.

Dessa forma, é muito frequente, entre os adeptos, atitudes de medo e respeito para com Maria Padilha e outras pombas giras, mesmo quando delas não se pretende qualquer favor.

Isso fica claro com este ponto cantado:

Quem não me respeitar
Oi, logo se afunda
Eu sou Maria Padilha
Dos sete cruzeiros da calunga
Quem não gosta de Maria Padilha
Tem, tem que se arrebentar
Ela é bonita, ela é formosa
Oh! bela, vem trabalhar.

Por isso, na umbanda formada nos anos 30, do encontro de tradições religiosas afro-brasileiras com o espiritismo kardecista francês, Maria Padilha, e pombas giras de um modo geral, faz parte do panteão de entidades que trabalham na “esquerda”, isto é, que podem ser invocadas para “trabalhar para o mal”, em contraste com aquelas entidades da “direita”, que só seriam invocadas em nome do “bem”.

Ou seja, embora o candomblé não faça distinção entre o bem e o mal no sentido judaicocristão, uma vez que seu sistema de moralidade se baseia na relação estrita entre homem e orixá, relação essa de caráter propiciatório e sacrificial, e não entre os homens como uma comunidade em que o bem do indivíduo está inscrito no bem coletivo, a umbanda, por sua herança kardecista, preservou o bem e o mal como dois campos legítimos de atuação, mas tratou logo de os separar em departamentos estanques.

A umbanda se divide numa linha da direita, voltada para a prática do bem e que trata com entidades “desenvolvidas”, e numa linha da “esquerda”, a parte que pode trabalhar para o “mal”, também chamada quimbanda, e cujas divindades, “atrasadas” ou demoníacas, sincretizam-se com aquelas do inferno católico ou delas são tributárias, o que inclui-se Maria Padilha e os exus, claro, e onde ambos são mal-educados, despudorados, agressivos.

Porém, se um dia a umbanda separou o “bem” do “mal”, com a intenção indisfarçável de cultuar a ambos, parece que, com o tempo, ela vem procurando apagar essa diferença.

Na concepção umbandista, exu é um espírito do mal, um anjo decaído, um anjo expulso do céu, um demônio, enfim.

De pomba gira, como Maria Padilha, se diz ser mulher de demônios e morar no inferno e nas encruzilhadas, como esclarecem suas cantigas:

A porta do inferno estremeceu
O povo corre pra ver quem é
Eu vi uma gargalhada na encruza
É Pombagira, a mulher do Lucifer
[pesquisa de campo]
Ela é mulher de sete Exu
Ela é Pomba Gira Rainha
Ela é Rainha das Encruzilhadas
Ela é mulher de sete exu

Apesar disso, não há mãe-de-santo ou pai-de-santo que admita trabalhar para o mal. O mal, quando acontece, é sempre uma consequência do bem, pois as situações que envolvem os exus são sempre situações contraditórias, por isso, questões de bem e de mal são irrelevantes, até mesmo quando se trata de Maria Padilha.

Além do mais, quando um devoto invoca exu e pomba gira, ou seja, também Maria Padilha, dificilmente tem em mente estar tratando com divindades diabólicas que impliquem qualquer aliança com o inferno e as forças do mal.

Nem é de se estranhar que tenha sido a umbanda que melhor desenvolveu essa entidade, pois foi a umbanda, como movimento de constituição de uma religião referida aos orixás e aos pactos de troca homem-divindade e ao mesmo tempo preocupada em absorver a moralidade cristã, que separou o bem do mal, sendo portanto, obrigada a criar panteões separados para dar conta de cada um.

Porque a umbanda nunca se cristianizou, ao contrário do que pode fazer entender a idéia de sincretismo religioso: ela reconhece o mal como um elemento constitutivo da natureza humana e o descaracteriza como mal, criando todas as possibilidades rituais para sua manipulação a favor dos homens.

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