Maria Padilha, Amante de Dom Pedro

Maria Padilha é uma entidade espiritual considerada uma mulher bonita e que influenciou o rei Dom Pedro I de Castela (1334-1369) nas mais importantes decisões, além de determinar o modo como governaria e auxiliar na negociação de seu casamento com Branca de Bourbon, visando uma aliança com a França.

Ela foi sim a amante de Dom Pedro, mas também a rainha. Encarnada como Maria de Padilla, a amante do rei de Castela teve com ele quatro filhos (ver abaixo).

Dona Maria de Padilla e Dom Pedro I de Castela se casaram secretamente em Olmedo, um município da Espanha na província de Valladolid, comunidade autónoma de Castela e Leão.

Em 1361, a peste bubônica assolou o reino e, para desespero de Dom Pedro I de Castela, fez de Maria de Padilla uma de suas vítimas (um ano antes do seu filho herdeiro), no Alcazar – pelas contas históricas com 27 anos.

Dizem que o rei nunca se conformou com essa morte prematura e, um ano depois, declarou, diante de todos os nobres da corte de Sevilha, que sua única e verdadeira esposa era Maria de Padilla.

Foi assim que Maria de Padilla sagrou-se como a única esposa de Dom Pedro I de Castela, tornando-se a legítima rainha e exercendo seu poder e influência mesmo depois de morta.

Maria Padilha, talvez a mais popular pombagira da Umbanda e do Camdomblé, é considerada um espírito de uma mulher muito bonita, branca, sedutora, e que em vida teria sido prostituta grã-fina ou influente cortesã (o que é mentira).

Marlyse Meyer publicou, em 1993, o livro Maria Padilha e Toda sua Quadrilha, contando a história da amante do rei de Castela.

Seguindo uma pista da historiadora Laura Mello e Souza (1986), Meyer vasculha o Romancero General de romances castellanos anteriores ao siglo XVIII, depois documentos da Inquisição, construindo a trajetória de aventuras e feitiçaria de uma tal de Dona Maria Padilha e toda a sua quadrilha, de Montalvan à Beja, de Beja à Angola, de Angola à Recife e de Recife para os terreiros de São Paulo e de todo o Brasil.

Maria de Padilla nasceu em 15 de setembro de 1334, em Palencia, pertenceu à uma família nobre Castelhana, filha de Juan García de Padilla (pai) e María González de Hinestrosa (mãe), que eram originários de Padilla de Abajo (anteriormente Padiella de Yuso) – um município espanhol localizado na província de Burgos, região onde os membros eram pessoas destacadas na sociedade da época, e faleceu em Sevilha, em julho de 1361, e foi graças à ela que, em 1353, Dom Pedro I de Castela, o jovem rei de 19 anos, escolheu governar como um autocrata apoiado no povo, casando-se com Branca de Bourbon como forma de fortalecer os laços políticos e criando uma aliança entre Castela e França.

Por volta dos 20 anos, em maio de 1352, Maria de Padilla foi apresentada a Dom Pedro I (com 18 anos incompletos) por intermédio de João Afonso de Albuquerque, o senhor de Alburquerque, mordomo-mor de Maria de Portugal (rainha de Castela e mãe de Dom Pedro I de Castela) e artífice do casamento de Dom Pedro I de Castela com Branca de Bourbon.

Dom Pedro I estava em uma expedição de verão às Astúrias, na costa, para combater o meio-irmão Enrique de Trastámara que estava revoltado.

Mesmo contra a vontade da própria Branca de Bourbon, no dia 25 de fevereiro de 1353, ela chega em Valladolid, com seu séquito chefiado pelo Visconde de Narbona, para assumir seu lugar como esposa de Dom Pedro I de Castela, mas Pedro I encontrava-se em Torrijos, com Maria de Padilla prestes a dar à luz.

Em 3 de junho do mesmo ano, houve a cerimônia da boda de Pedro I de Castela com Branca de Bourbon, apadrinhada por Dom Juan Afonso de Albuquerque e sua tia Leonor de Aragão.

Três dias mais tarde, após romper a aliança com a França, o rei Dom Pedro I abandona sua esposa e se dirige à Puebla de Montalbán, onde Maria de Padilla se encontrava.

O partido político, adverso a Pedro I de Castela, descobre que ele havia se casado, secretamente, com Maria de Padilla e exerce pressão política contra o reinado de Dom Pedro I.

Don Beltran de la Sierra, núncio do papa, intimou o rei a retomar Branca como sua esposa. O rei, entretanto, preferiu mantê-la afastada, mandando-a de Siguenza para Jerez de la Frontera e, mais tarde, para Medina Sidonia, até que, em 1361, Branca de Bourbon é envenenada e morta, aos vinte e cinco anos, pelo besteiro Juan Perez de Rebolledo.

Alguns meses após a morte de Branca de Bourbon, em Medina Sidonia, Maria de Padilla morre durante a pandemia da peste bubônica de 1361.

Dom Pedro fez seu velório e enterro como o de uma grande rainha, fazendo com que seus súditos beijassem as mãos de Padilla, e a enterrou nos jardins de seu castelo.

Posteriormente, seus restos mortais foram sepultados em Astudillo, onde ela havia fundado um convento.

Com o Arcebispo de Toledo considerando justas e honrozas as razões que levaram Dom Pedro I de Castela a abandonar Branca de Bourbon, tendo em vista os conflitos com os Franceses, Pedro I deparou-se com uma Corte disposta a ratificar a afirmação de seu rei e assumir Maria de Padilla como a legítima rainha.

No entanto, D. Pedro só fez de D. María Rainha de Castela em abril de 1362 (nove meses após sua morte), ao declarar, com a aquiescência das autoridades eclesiásticas de Sevilha, terem se casado em segredo, mesmo já tendo se casado duas vezes, formal e publicamente: com a nobre francesa Branca de Bourbon, em junho de 1353; e com a portuguesa Joana de Castro (meia-irmã da “linda” Inês, que também, como D. María, fora rainha depois de morta), em 1354.

Com a confirmação de que Maria de Padilla foi a única esposa do rei Dom Pedro I de Castela, seus restos mortais foram transferidos para a Capela dos Reis na Catedral de Sevilla.

No início da história de Maria de Padilla, diz-se que Dom Pedro I apaixonou-se por ela por ser uma jovem linda e sedutora que, dizem, teria ido morar no castelo como dama de companhia de Dona Maria, mãe de Dom Pedro.

Maria de Padilla era moça e, ao serem apresentados, Maria de Padilla e Dom Pedro I foram tomados de paixão um pelo outro e, mesmo às escondidas, começaram um grande caso de amor, que sabiam que jamais seria aceito pela família e tampouco pela corte.

O rei Pedro I “o Cruel” chegou a casar-se duas vezes enquanto mantinha Maria como sua amante oficial, o que lhe concedia alta posição nos Reais Alcazares de Sevilha, residência oficial da dita dama, onde, com sua pequena corte, repartia notáveis privilégios para seus familiares e conhecidos, o qual foi causa de descontento de alguns nobres e um dos motivos pelos quais se lutou na Guerra Civil Castelã, entre o rei e seu irmão bastardo Enrique de Trastámara.

Casado com Branca de Bourbon, passou duas noites com ela e depois a desprezou, indo em busca da já amante, Dona Maria de Padilla.

Conta a história que Padilla foi uma das grandes responsáveis pelo abandono ou morte de D. Blanca de Bourbon, porém esta é uma história muito confusa, pois alguns livros indicam que D. Blanca foi decapitada ao mando do Rei, outros apenas citam que ela foi abandonada por ele e devolvida à sua família na França por ele ter assumido seu amor por Maria de Padilla e ainda tem a hipótese dela ter sido assassinada por um besteiro, como indicado acima.

Depois da morte de D. Blanca, Padilla passou a viver com o Rei em seu castelo em Sevilha, que foi construído e presenteado à Maria de Padilla pelo seu amado rei de Castela.

Maria Padilha: Rainha na Espanha e Pomba Gira no Brasil

Como podemos ver, Maria Padilha é conhecida em Sevilha e na Espanha por ter sido amante de D. Pedro I e reconhecida postumamente como sua legítima esposa.

Desde que Pedro e Maria se conheceram, eles se tornaram inseparáveis. Ela morava no Alcázar de Sevilha com seus filhos e, embora Pedro tivesse se casado duas vezes por conveniência e tivesse filhos com várias outras mulheres (nenhum dos quais com a única incontestavelmente tida em vida como Rainha de Castela, Branca de Bourbon), Maria era seu verdadeiro amor.

Após sua morte, Pedro confessou seu casamento com ela em segredo, fazendo com que ela fosse reconhecida como uma rainha póstuma e seus filhos como legítimos.

Possivelmente, essa visão romântica dessa relação de amor foi a inspiração para o futuro que a história e os séculos teriam preparado para Pedro e Maria.

Maria Padilha tornou-se a protagonista de uma das mais de 150 óperas ambientadas em Sevilha. E é notável que uma figura histórica como Maria Padilha se torne uma figura tão popular entre o público em geral.

Tanto Pedro I, chamado de “cruel” por uns e “justo” por outros, como Maria Padilha, por ter protagonizado uma história de amor desaprovada em sua época, simpatizavam com as classes mais populares, que se encarregavam de alimentar a lenda e torná-los protagonistas durante os séculos posteriores de romances, peças de teatro, lendas e óperas.

O teatro espanhol (desde Lope de Vega) e também o francês, sobretudo o do período romântico, faria de D. Pedro e D. María protagonista e a antagonista (e vice versa), enfatizando sempre a crueldade do homem e a doçura da mulher.

Esse antagonismo deve ter sido inspirado, principalmente, nas Crónicas de Ayala, de acesso mais restrito, contradizendo o muito popular romanceiro velho e, também, de modo radical, a concepção brasileira – também muito popular – das diabólicas marias padilhas – e até mesmo a circunstância em que Carmen a invocava na novela de Mérimée.

Bem revelador do caráter bondoso atribuído por Ayala e os dramaturgos românticos a D. María de Padilla é o título de sua única biografia, escrita pelo especialista na história de Sevilha Carlos Ros: Doña María de Padilla: el ángel bueno de Pedro el Cruel (2003).

O fato é que as artes do espetáculo, do romanceiro, do teatro, dos ritos religiosos e dos autos da fé, têm sido boa cena para a história e o mito de Doña Maria de Padilla a Maria Padilha.

A luta de Pedro contra grande parte dos nobres de seu tempo, fez com que o povo o visse como inimigo dos grandes e defensor dos pequenos, identificando-o como um personagem mais justo que cruel.

Pedro seria personagem recorrente em muitas obras literárias, da época e posteriormente, passando a figurar como protagonista em obras de Próspero Mérimée ou Alejandro Dumas, quinhentos anos após a sua morte.

Maria acabaria por se tornar a musa de outros autores, desde a protagonista de óperas, a ser uma semideusa a invocar nos feitiços de amor, sendo um símbolo de beleza e até luxúria, alcançando a sua fama e adoração tão longe de Sevilha quanto o Brasil.

No estudo das religiões brasileiras de origem africana, encontramos a Maria Padilha na Umbanda e na Quimbanda, onde é considerada a “rainha da magia”.

Às vezes, também é chamada de “rainha sem coroa”, por ter sido rainha do coração do rei Pedro I de Castela, o Cruel.

A fama de María Padilla sobre o resto das pombas giras cresceu tanto que se tornou uma denominação coletiva, dando origem a “várias Marias Padilha”: da figueira, da estrada, do porto, da praia, e um longo etc.

Ela é sempre representada como uma mulher bela, exuberante, provocante, vestida de vermelho, com traços ciganos, possivelmente devido à herança de Carmen de Mérimée, vista como uma rainha cigana, inspirada por sua vez na Maria de Padilla de Pedro I.

A visão de uma mulher fatal e cruel que arrasta a Pedro, sempre hipnotizado por María Padilla, deixou sua marca nas histórias, lendas e letras das baladas populares.

Maria Padilha passou assim de esposa-amante do rei a “padroeira” das feiticeiras, um espírito poderoso, mau e infernal, suscitando paixão e devoção.

Maria Padilha é rainha castelhana que com o tempo se transformou na mais venerada “deusa” do amor no Brasil.

Maria Padilha também é um exemplo perfeito de como “novos espíritos” nascem: lendas cresceram em torno da mulher real, que tinha a reputação de feiticeira, e dentro de cem anos, bruxas em Espanha e Portugal estavam usando seu nome e invocando seu espírito para ajudá-las em seus feitiços.

Os Quatro Filhos de Maria de Padilla e Dom Pedro I

Juntos, Maria de Padilla e Dom Pedro I, tiveram quatro filhos:

Beatriz, nascida em 1353, infanta de Castela, nasceu na Câmara Municipal de Torrijos, no local passaram inúmeras temporadas e foi comemorado o nascimento da primeira filha com uma grande celebração com cruzamento de lanças, onde ela sofreu uma lesão no braço durante o torneio. Mais tarde, Beatriz tornou-se freira na Abadia de Santa Clara.

Constanza, nascida em 1354, infanta de Castela. Quando Constanza nasceu, em Castrojeriz, Padilla foi até o Papa pedir permissão para fundar o mosteiro, revelou ao Papa seu desejo de tornar a vida penitente no mosteiro (consta nos documentos papais que vieram de Avignon). Com o aval do Papa, o Mosteiro Real Santa Clara, em Astudillo, foi fundado em 1353, a primeira abadessa foi Juana Fernández de Hinestrosa, tia de Padilla. Em 1371, em 21 de setembro, Constanza se casou com João de Gante, Duque de Lencastre, em Roquefort-sur-Mer, na Aquitânia. O marido foi pretendente ao trono castelhano entre 1372 a 1387. Juntos tiveram uma filha: Catarina de Lancaster, que mais tarde se casou com Henrique III de Castela.

Isabel, nascida em 1355, infanta de Castela. Mesmo ano que nasceu Juan de Castilla, filho de Juana de Castro, que foi trancado na fortaleza de Soria e feito como refém de garantia quando a paz foi assinada entre Enrique II de Castilla e o duque de Lancaster. O irmão, Juan de Castilla, era receptor de todos direitos sob a herança do pai, Dom Pedro I, caso alguma das filhas viesse a morrer. Isabel se casou com Edmundo de Langley, Conde de Cambridge, no dia primeiro de março de 1372, em Hertford. Em 1385, ele tornou-se Duque de York. Juntos tiveram três filhos: Ricardo, Constança e Eduardo Plantageneta

Afonso, o último filho, nasceu em 1359, era príncipe herdeiro de Castela, mas morreu de peste negra.

O reino estava prestes a acabar no poder da monarquia inglesa, devido a situação. Em 1388, decidiram cessar a luta casando os filhos Enrique III de Castilla e Catalina de Lancaster (filha de Constanza), que receberam o status de príncipes das Astúrias pelo acordo de Bayonne, em imitação do Principado de Gales, típico do sucessor do trono inglês.

De Maria de Padilla para Maria Padilha

A ascensão de Maria de Padilla ao mundo místico decorreu após sua morte em consequência de seus atos em vida.

Maria de Padilla era muito inteligente e extremamente saga, mas o que lhe rendeu carisma com os escravos foi sua bondade e senso de justiça.

Dessa forma, após sua morte, os escravos depositaram esperanças na imagem póstuma de Maria de Padilla, nascendo, assim, a lenda da entidade de Maria Padilha.

O nome Padilha originou-se do nome da nobreza espanhola Padilla, mais especificamente de Dª. Maria de Padilla, mais conhecida como Maria Padilha, a amante, conselheira e, posteriormente, esposa de Dom Pedro I, de Castela.

O nome, originário em homenagem à segunda esposa de Pedro I de Castela, Dª. Maria Padilha de Castela, da Casa de Padilha (Antiga Família Padilla), em Castela, na Espanha Ibérica, pertence à Dinastia de Borgonha.

Dizem que a primeira aparição da entidade Maria Padilha foi em uma mulata no tempo da corte de D. Pedro II, no Brasil, onde esta mulata, em um sessão de Catimbó, recebeu uma entidade muito feiticeira e faceira, que se apresentou como D. Rainha Maria Padilha de Castela e contou a sua história e que, depois dela, outras Padilhas viriam para fazer parte da sua quadrilha.

Maria de Padilla (Maria Padilha) é o espírito que deu origem a determinada linha e, por este motivo, devemos nos lembrar que existem diversos outros espíritos que atuam na mesma linha, sendo então falangeiros e atuando como representantes do espírito que à originou.

Por isso, temos tantas Marias Padilha, tais como Maria Padilha das Almas, da Estrada, do Cruzeiro, da Encruzilhada e tantas outras.

Algumas Falangeiras de Maria Padilha

Algumas das principais Pombas Giras que estão dentro da falange de Maria Padilha, abaixo de sua ordem, são:

  • Maria Molambo
  • Maria Lixeira
  • Maria das Almas
  • Maria da Praia
  • Maria Cigana
  • Maria Rosa
  • Maria Colodina
  • Maria Farrapos
  • Maria Navalha
  • Etc.

Chefes de Falanges de Padilha

  • Maria Padilha
  • Maria Padilha das Almas
  • Maria Padilha da Encruza
  • Maria Padilha da Boca de Fogo
  • Maria Padilha Sete Saias
  • Maria Padilha Menina
  • Maria Padilha da Calunga
  • Maria Padilha Rainha do Candomblé

Maria Padilha não apenas incorpora em Filhos de Iansã, mas também pode incorporar nos filhos de outras orixás.

Podemos Entregar para Maria Padilha:

  • Farofa com Dendê, que chamamos de padê (esta farofa é uma mistura de champanhe, dendê
    e farinha de rosca branca)
  • Champanhe
  • Cigarros
  • Brincos
  • Pulseiras
  • Colares
  • Velas
  • Alguidar

Quem era Maria de Padilha? Conheça sua História Verídica

No vídeo abaixo, postado pelo Canal Lollita Garcez, no YouTube. Você poderá conferir a história de Maria de Padilla com imagens de seu castelo, em Servilha, Espanha.

Livro Recomendado:

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